Exposições

A Madrugada de Wilhelm e Leopoldine

Adriana Molder

Curadora: Filipa Oliveira

09 de Janeiro a 02 de Março de 2007

A presente exposição centra-se num conjunto de desenhos que se situam em torno da interligação entre a construção de uma paisagem citadina, um conjunto de personagens e a possibilidade de criação de um ambiente narrativo de densa carga psicológica. Os desenhos de grandes dimensões de paisagens urbanas foram criados a partir dum imaginário e também de experiência (vivência da artista de duas cidades: Nova Iorque e Budapeste). Não só servem estas imagens para criar um cenário para uma possível história que decorre no espaço da exposição, como adensam de simbologia e de carga psicológica a mesma.
As duas personagens que emergem nesta exposição podem ser habitantes destas cidades. Assim como podem ser as personagens centrais dum conto de Arthur Schnitzler ou protagonistas de um filme do cinema expressionista alemão. Elas passeiam, encontram-se e escondem-se nas suas ruas, recantos, interiores. São personagens que caminham a cidade que a vivem. No entanto, esta interacção, tanto entre as personagens entre si e com a própria cidade, é invisível nos desenhos.

O encontro dá-se no imaginário de cada espectador, que se transforma também num passeante pelo espaço. O ambiente é pesado e negro, ansioso e expectante de um acontecimento que se vê permanentemente adiado. O tempo surge parado, como que suspenso numa qualquer madrugada onde tudo ainda é possível: a salvação ou a queda. o passeio destas personagens nesta madrugada, pela cidade será o fio condutor da exposição. Adriana Molder (Lisboa, 1975) é uma artista que em poucos anos conseguiu afirmar um estilo e imagética de forte carga autoral. Trabalhando num campo tradicional da arte, como é o retrato, tem demonstrado uma vontade não só inovadora, mas de quebra dos limites da própria disciplina onde trabalha.

O desafio nesta nova série de desenhos - mantendo a sua técnica muito própria do uso da tinta da china sobre papel esquiço e da imagem fotográfica como modelo - será a abordagem ao espaço exterior da cidade, ou seja, o desenho de paisagem e a sua relação com as personagens retratadas. Apesar de em séries anteriores já ter sido abordada a paisagem de interior (na série "Hotel", exposta em Berlim no início de 2006, e na série "Encontro Marcado" também de 2006, exposta recentemente no Museu de Belas Artes de Oviedo) a paisagem urbana surge aqui com uma relação muito directa com o trabalho de retrato e apresenta inéditas problemáticas, questionamentos e possibilidades de leitura.